Durante a Money Week, evento de educação financeira e finanças, promovido pela EQI Investimentos, aconteceu presencialmente na sexta-feira (2), em Balneário Camboriú, Santa Catarina, Arthur Rossi, gestor de crédito estruturado da EQI Asset, moderou um painel sobre o assunto, com ênfase na perspectiva dos tomadores e como a redução da participação dos bancos influencia o cenário do mercado de crédito.
O painel contou com a participação de Michel Rubin, sócio e gestor da M8 Partners, David Kim, sócio e gestor da More Invest, e Delano Macedo, sócio e responsável pela área de crédito da Solis Investimentos.
Cenário do mercado de crédito
O mercado de crédito está passando por uma transformação notável, com a participação dos bancos diminuindo significativamente em comparação ao passado, quando dominavam o setor. Essa mudança reflete uma migração dos produtos bancários e uma alteração na origem dos empréstimos.
Mas como exatamente está ocorrendo esse processo? E quais são as implicações para quem busca crédito e quais benefícios podem surgir desse cenário?
No Brasil, o fenômeno da desintermediação está ganhando destaque, com investidores cada vez mais se conectando diretamente com tomadores de crédito, sem a necessidade de bancos como intermediários. Essa tendência estrutural tem mostrado sinais de fortalecimento e promete expandir-se ainda mais, criando novas oportunidades tanto para investidores quanto para tomadores de crédito.
De acordo com Delano, esse processo é incentivado por órgãos reguladores como o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O Banco Central apoia a desintermediação com o objetivo de reduzir a concentração de crédito nos cinco maiores bancos do país, que detêm mais de 80% do crédito no Brasil. Por sua vez, a CVM tem fomentado esse movimento com a recente aprovação da Lei 175, que amplia as possibilidades de investimento para o público em fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), após mais de 20 anos de regulamentação.
Para ilustrar essa mudança, dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) mostram que, há cinco anos, os FIDCs representavam menos de 3% do mercado de fundos no Brasil. Atualmente, com um mercado de fundos avaliado em R$ 8,5 trilhões, os FIDCs agora correspondem a aproximadamente 6,5% desse total.
Indústria de FIDCs
Rubin destaca que um dos principais atrativos do mercado de crédito estruturado, especialmente com os fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), é a agilidade que proporciona às empresas ao buscar recursos.
Com a desbancarização, as empresas conseguem acessar um mercado de estruturação mais flexível, que permite a criação de produtos personalizados para diferentes tipos de empresas e setores. Essa abordagem possibilita uma estrutura de capital mais ajustada às necessidades específicas de cada empresa, promovendo eficiência no fluxo financeiro e na gestão do balanço.
Além disso, ele diz que a desintermediação elimina a pressão direta dos bancos, o que significa que as empresas podem evitar a influência tradicional dos credores bancários. Em vez disso, as empresas devem adotar uma governança interna sólida para interagir com investidores e seguir as regras estabelecidas pelas operações de FIDC, o que pode ser altamente benéfico para o mercado.
Delano reforça a opinião de Rubin, acrescentando que tanto empresas quanto gestoras devem se preparar adequadamente para assumir o papel de estruturadores de crédito.
“As gestoras precisam entender detalhadamente as demandas dos tomadores e identificar os riscos nas operações. A nova regulamentação transfere a responsabilidade para as gestoras, que agora devem focar no acompanhamento ativo das carteiras e na interação com os originadores“, explica.
Kim complementa dizendo que a evolução da dívida em relação ao PIB no Brasil é positiva, com a indústria de crédito alcançando R$ 3 trilhões no sistema financeiro. A desintermediação, ao conectar diretamente investidores e tomadores de crédito, está se consolidando como uma tendência estrutural. Essa mudança não só reduz os custos para os tomadores, mas também promete um aprimoramento contínuo no mercado de crédito.
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